Em 1998, TV por assinatura era coisa apenas para aquela camada da população que tinha uma conta bancária galã. Não era o caso da minha família. Logo, as informações sobre as Eliminatórias eram escassas. Isso quando chegavam. Desnecessário também dizer que em 1998 a Internet era um sonho longíquo.
Em um dia qualquer, no entanto, avistei um número enorme de pessoas em frente a uma banca. Curioso que sou, fui averiguar do que se tratava. Quase tive um ataque do coração quando descobri que o álbum da Copa 98 já estava sendo comercializado.
Aproveitei que tinha uns trocos no bolso, e comprei o livro ilustrado, e alguns pacotes de figurinhas.
Chegando em casa, tratei de tentar decorar todas as informações de todos os jogadores e seleções.
Logo de início, fiquei empolgado: trinta e duas seleções (algumas que eu nem sabia que existiam), o que representava mais jogos do que em 1994.
Além de tudo, notei que Bulgária e Romênia jogariam o torneio, o que me empolgou muito.
Nem mesmo a horripilante música tema da Copa diminuiu minha empolgação. Bom, se você não se lembra da música, está aí:
Enfim chegou o dia. Como sempre, uma abertura chata e eterna. Depois da tortura, Brasil e Escócia entram em campo. O jogo foi extremamente complicado. Lembro bem que a figura do goleiro escocês banguela ( Jim Leighton) era muito presença. Mas não foi suficiente para impedir a vitória do Brasil por 2 a 1.
O legal foi que pude ver o término da primeira rodada tranquilo. Dessa maneira, pude acompanhar cada Seleção e fazer minha própria análise. Resumidamente, pensei que não havia nenhuma seleção capaz de tirar o Penta do Brasil em 1998. E dei muita risada em ver a Espanha tomando a virada da sempre carismática Nigéria. Porém, fiquei com dó do eterno Zubizarreta, que errou quando não poderia errar.
Chega a segunda rodada, e o Brasil aplica um imponente 3 a 0 em Marrocos. A chance do título estava se tornando praticamente uma certeza na minha cabeça cheia de ilusões. Pude ver que a Inglaterra é uma das maiores farsas do futebol. Era um jogo muito chato, sonolento mesmo. Já a Romênia continuava bancando minhas apostas (na época, apostava com meu pai, mas apenas para ver quem era o mais “sábio”). Já a Bulgária virou aquela ex-namorada que o tempo tratou de fazer perder o encanto.
Itália, França, Argentina, Holanda, e algumas outras seleções apareceram aplicando goleadas impiedosas. Correndo por fora, aparecia a Croácia, com seu uniforme fantástico.
Nada tirava meu sono. Até a Noruega vencer o Brasil. Foi o primeiro golpe. Na minha cabeça, o Brasil era invencível. Mas, ainda bem que a derrota não atrapalhou em nada. Brasil perdeu por 2 a 1 e se classificou. Ao contrário da Espanha, que enfiou 6 na pobre Bulgária e foi eliminada na primeira fase.
Chega então a hora do MATA-MATA
Como já havia passado o trauma de 1994, julguei que meu coração estava preparado para toda e qualquer situação. Digamos que a partida contra o Chile não serviu para contestar meu julgamento. Jogo tranquilo, um 4 a 1 em que o grandioso Cesar Sampaio guardou dois.
Já a França comeu o pão que Napoleão amassou para passar no gol de ouro pelo valente Paraguai. Fiquei extremamente triste, pois torci como nunca pelos vizinhos, ainda mais depois de ver Gamarra jogando com o ombro imobilizado.
A Romênia voltou pra casa após perder para a perigosa Croácia. Foi outro golpe duro de aguentar.
Já nas quartas, o Brasil tinha pela frente a Dinamarca, que havia massacrado a Nigéria nas oitavas. Menos de um minuto, e os caras fizeram 1 a 0. Ainda bem que Rivaldo estava em um dia inspirado, e Ronaldo era Ronaldinho, e sua única preocupação era jogar bola. Apesar das peripécias de Roberto Carlos, um 3 a 2 suado.
Argentina e Holanda decidiriam quem seria o adversário do Brasil. Os holandeses venceram no apagar das luzes, com um golaço de Bergkamp.
O sofrimento de 1994 novamente. Mas dessa vez, a angústia se prolongou por prorrogação e pênaltis. Taffarel se encarregou de manter o meu sonho (e o de todo brasileiro) vivo.
Tudo estava caminhando feito o planejado. Mas quis o destino que a final fosse contra os donos da casa. Quis o destino que um Zidane, até então desconhecido para muitos de nós brasileiros, estivesse em um dia inspirado.
O final todo mundo sabe: França campeã. Muita polêmica. Muitas teorias. Muitas pessoas enojadas. O tilt até hoje sem muita explicação de Ronaldo. Aliás, ele foi um dos poucos a já utilizar chuteiras coloridas nessa Copa. O Edmundo comendo a bola preso ao banco de reservas.
Não importa. O mais doloroso de tudo foi ver um jogador meia boca chamado Petit fazer o último dos três tentos franceses. Seria algo como você perder sua namorada para o cara mais babaca da rua de baixo.
Mas vieram as coisas boas! Fiquei encantado com o futebol da Croácia (que será motivo de uma outra postagem), pude assistir inúmeras partidas fantásticas e percebi que AINDA existiam muitos bons jogadores pelo mundo. Classe não faltou. Zidane é o maior exemplo disso.
Se a Copa de 1994 foi meu primeiro amor, a de 1998 foi a primeira desilusão. Aquela namorada que você lembra de inúmeros bons momentos, mas não quer lembrar de maneira nenhuma do final.
Até a próxima, galera!
por Mateus Ribeiro
A postagem da copa de 1994 foi melhor pois falou mais das outras seleções. A Croácia merece um texto a parte e, principalmente a Holanda que foi a seleção que jogou o melhor futebol dessa Copa.
Gostei de vc ter falado do Edmundo que talvez seria o melhor jogador brasileiro naquele momento e não teve oportunidades.
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Pra mim também foi a primeiro desilusão, eu também achava o Brasil imbatível…
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Excelente texto como sempre! Sou fã e torcedor da Romênia, mesmo nos dias atuais e realmente a Copa de 98 – e a última deles até entao, foi decepcionante. Faltou mencionar que Hagi e Cia. voltaram pra casa após sofrer un gol do Croata Davon Suker – que com certeza será mencionado no texto sobre a Croácia, em penâlti duvidoso e com isso veio a eliminação.
Apenas compartilhando, acredito que fui um dos raros que torçeu contra o Brasil já nessa Copa de 98. Não sei porque, mas desde 95 já achava que tinha muita firula por trás da seleçao Brasileira.
Abraços e continuem com o excelente trabalho feito até o momento.
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