O futebol, depois de enterrado, deixou de ser casa pros meninos mais problemáticos, que viam se encaixar perfeitamente no campo a ousadia que não funcionava na vida.
Moleques que descontavam na bola e acabavam atropelando os adversários.
As divisões de base viraram fábricas de bons-caráteres, parindo joias adequadas ao mercado publicitário e à fé cega dos seguidores das seitas e redes sociais.
Mas nós gostávamos é daqueles que escorregavam na vida. Do caderno de esportes pras páginas policiais – exceto o Bruno, esse foi longe demais.
Adriano.
“Didico” pros íntimos na Vila Cruzeiro – será sempre alvo da nossa estima e amor.
Foi pra Europa quase antes do primeiro bigode. E, antes de virar alguém por aqui, tornou-se na Itália o Imperador.
Com o porte físico de um trator, carregava os zagueiros rivais nos ombros e soltava uma bomba na direção do gol. Comemorava com a torcida, gritava, mas quando saia do estádio, encontrava uma Milão fria, estranha, tão longe de casa.
A morte do pai agravou de orfandade a solidão, e cada vez mais Adriano se errava, chamava a atenção.
De craque a problema, perdeu espaço na Itália. Passou pelo São Paulo e dali pro Flamengo, clube do coração.
Voltou pra perto do morro, foi campeão e artilheiro do Brasileiro.
Mas o retorno – de craque a menino da Vila Cruzeiro – continuou firme seu rumo.
Até os holofotes brasileiros, o Flamengo tão familiar, coletiva de imprensa, a obrigação de treinar pareciam coisa demais.
Muito rico, Adriano hoje vive o que chama de lar.
Preferiu isso à Europa, isso às Copas.
Morro, amigos, festa e cerveja.
Continua à procura de paz.
Quem nunca deu nada pro Adriano – e nem pra ninguém como ele – corre pra crucificar.
Eu lembro dele nos campos. Torço pruma volta, que receio nunca virá.
Mas o que é dele no Flamengo eu guardo.
E perdoo qualquer foto com rifle, qualquer tiro na mão.
P.S.: O jornal Extra noticiou mais uma do nosso ídolo. Antes de julgar: quem nunca atirou a primeira pedra?
Por Henrique “Kike de Quintino” Lederman
Um comentário sobre “Em terra de seguidores, um viva ao Imperador!”